Massacre em GAZA: o horror da civilização do Capital | Vamos Hacia la Vida

Durante mais de duas décadas, a população palestina da Faixa de Gaza teve de enfrentar a intensificação da política de exclusão do Estado de Israel, que se traduziu no cerco e consequente isolamento do proletariado de Gaza e na ocupação militar das suas cidades. As duras condições de sobrevivência impostas pelo regime sionista transformaram esta região num verdadeiro campo de concentração a céu aberto.

O Estado de Israel tem tentado gerir esta “população excedente” (para os interesses do capital) através do terror mais brutal, recorrendo também a pactos com organizações da burguesia palestina para controlar e administrar o território, o que implica uma relação contraditória entre ambos aparatos, enquanto estas organizações paraestatais na Palestina devem, por sua vez, se validar continuamente junto da população que governam, recorrendo à retórica anticolonial e à atividade contra Israel, uma razão que explica em parte porque é que organizações anteriormente financiadas e promovidas pelo Estado de Israel, como o Hamas, logo se mostram como os seus inimigos mais ferrenhos.

No entanto, o dia 7 de Outubro do ano passado marcou um ponto de virada nesta contínua política genocida com o início por parte de Israel duma contraofensiva militar que, baseada no uso de tecnologia sofisticada, tem devastado a Faixa de Gaza, massacrando e deslocando quase 2 milhões de seres humanos de suas casas. Até à data, mais de 31.000 pessoas foram assassinadas – 70% deste número é composto por crianças e mulheres; Pelo menos 14 mil crianças e mais de 9 mil mulheres, milhares de outras estão desaparecidas sob as ruínas deixadas pelos incessantes bombardeamentos e mais de 73 mil ficaram feridas. Esses números horríveis continuam a aumentar a cada dia que passa. Como se não bastasse, as pessoas ficam encurraladas num espaço minúsculo, correndo o risco de perder a vida tanto devido ao cerco e aos bombardeamentos levados a cabo por Israel, como pela falta de acesso à ajuda humanitária causada pelo bloqueio total imposto à área.

À escala global, o recente massacre em curso marca um momento crucial na evolução da democracia e do Capital: a adoção dum estado de exceção permanente como a única solução viável para um capitalismo que enfrenta constantemente as suas próprias contradições em meio a uma crise sistêmica que piora cada vez mais as nossas condições de vida. Assim, face à passividade e imobilidade duma grande maioria, o terrorismo de Estado é cada vez mais legitimado: formas repressivas estão sendo testadas, e tal como nos últimos anos, uma vez que alguma é exitosa e, para além de alguma controvérsia internacional temporária, isto é instalado como por direito adquirido. Desta forma, todo o peso do ataque de Israel marca um precedente para o terrorismo de Estado nas democracias mundiais. É por isso que o slogan “Gaza é o mundo”, levantado pelos companheiros e companheiras, e que também afirmamos, faz sentido; A situação na Palestina é uma imagem que poderá em breve se espalhar por vários locais do planeta num contexto em que a violência e a decomposição social se generalizam, em sintonia com a irracionalidade inerente à acumulação capitalista que destrói tudo no seu caminho.

O que está acontecendo em Gaza – embora com uma magnitude obviamente diferente – também é conhecido e tem sido cruelmente vivido na nossa região pelas comunidades Mapuche em luta. Sob um estado de exceção supostamente temporário, mas que se tornou permanente sob a administração estatal de Boric, foi legitimada a intervenção militar que persegue, aprisiona, criminaliza e assassina impunemente em Wallmapu com armamentos fornecidos pelo próprio Estado de Israel.

Voltando a Gaza, o que podemos fazer para ajudar a pôr fim a este genocídio? A primeira coisa é deixar claro que tentar compreender as complexidades, os aspectos comuns e a especificidade destas situações não tem de se tornar um ato de passividade. A extrema urgência da situação não pode nos levar a soluções que aumentem o nosso desamparo. Encorajamos ações de solidariedade com a população palestina e de sabotagem dos Estados diretamente envolvidos neste massacre genocida. Acreditamos que é importante ir além do internacionalismo do movimento operário tradicional, promovendo um que seja capaz de projetar o conteúdo comunista que possa surgir nas atuais batalhas pela sobrevivência duma humanidade proletarizada que se encontra numa nova fase crítica do desenvolvimento do Capital.

Por isso, consideramos necessário e urgente divulgar, informar, boicotar as mercadorias e o Estado de Israel, mobilizar e mostrar solidariedade nas ruas, mantendo e aprofundando uma perspectiva de autoemancipação de toda forma de gestão capitalista.

Tradução: Inaê Diana Ashokasundari Shravya

Foto de Capa: Reuters